quarta-feira, 23 de março de 2011

Entre os destroços da voz

Há tantas mentiras
Sendo repetidas como um hino
Deformando o mundo que criei
Interrompendo o meu respirar

Há tempos não durmo
E os sonhos agora moram distantes
Estou vivendo o pesadelo de existir

De tantas razões enchi o mundo
Agora não tenho mais nenhuma para continuar
Desde que tudo resolveu retroceder
Transformando-me em dilacerante dor

Eu sou apenas um silêncio conturbado
Um sorriso maquiado
Entorpecida pela forma mais pura de tristeza

Se eu fosse um grito
Não haveria mais dor
Apenas a intensidade de desespero da voz
No atrevimento de ser ouvido

Eu me desmancharia em grito
Para desaparecer
Entre os destroços de silêncio

Gabriele Sampaio

Poemando




Nuvens negras de melancolia

O que seria de mim,
Sem minha melancolia?
Que borda com linha negra a minha vida
Mas que me deu o dom de pensar

Eu queria
Que todos os dias da minha vida fossem de céu cinza
Assim não me iludiria
Com os dias ensolarados

Quando os dias são de céu cinza
Me entrego a quem sou
Sem me enganar
Pincelando com planos um sorriso de mentira

Os dias ensolarados são pintados
Com um falso azul
Que cobre a beleza de uma nuvem negra

O sol é que trás esperanças
A quem está cansado de acreditar
E se vai, deixando destroços,
Em uma noite de trevas.

As lágrimas são como chuva
Que esfriam a terra,
Mas as deixam férteis
Para um plantio de pensamentos.

Gabriele Sampaio